O conceito e prática das ferramentas do lean já são comuns no meio industrial, mas é possível aplicá-lo em empresas de todos os segmentos, como na área da saúde. O lean em hospitais é relativamente novo, principalmente no Brasil, e quem o pratica já vê melhoras significativas em menos de um ano das mudanças.
O objetivo final do lean é melhorar a qualidade final do produto ou serviço por meio da redução de desperdícios, custos e atividades desnecessárias, que não agregam valor ao cliente final. Quando falamos de lean em hospitais, o grande objetivo é trazer mais qualidade aos pacientes pela redução de erros e tempo de espera e ainda implementar uma rotina de atendimentos uniformizada, na qual a equipe trabalha em sincronia e com agilidade.
Os sistemas de saúde no geral, tanto no Brasil como nos EUA e Reino Unido, são bastante deficientes em termos de processos. Todos operam de forma muita parecida, por isso, quando se buscava por mudanças ou formas mais eficientes de se trabalhar, era difícil encontrar um modelo que fazia algo diferente.
É importante ressaltar que isso não tem relação com médicos, enfermeiros e demais profissionais dos hospitais. A falta de qualidade em um atendimento não está relacionada a falta de cuidado de um médico ou enfermeiro, assim como a falta de produtividade não tem relação com a velocidade com que se fazem as tarefas. O problema está no sistema e nos processos.
Muitos podem pensar que para fazer qualquer mudança será muito trabalhoso e que precisará despender muitos recursos (financeiro, humano e tempo). Porém, o lean não atribui os problemas à falta de trabalho árduo ou cuidado, dessa maneira, não é necessário um grande investimento.
O lean tem uma abordagem diferente das outras estratégias de “redução de custos”, uma vez que o foco é a melhora na qualidade do serviço e o entendimento de que a redução de custos é uma consequência. Outro diferencial é envolvimento de todos no processo de mudança, da diretoria a pessoa responsável pela limpeza. Cada colaborador é incentivado a olhar para o seu dia a dia e encontrar possíveis melhorias no seu processo e setor, sem a necessidade de esperar pessoas externas dizerem o que deve ser feito.
A aplicação do lean em hospitais na prática
O uso das ferramentas do lean não vai resolver um grande problema do hospital, ele vai resolver centenas, e até milhares, de pequenos problemas rotineiros e é aqui que ele traz uma economia significativa de recursos. Temos bons exemplos nos EUA, onde alguns hospitais começaram a mudança há pouco mais de uma década.
O Theda Care, sistema de saúde com quatro hospitais no estado do Wisconsin, gerou uma economia superior a 27 milhões de dólares entre 2006 e 2014. Outro exemplo interessante é o Children´s Hospital de Seattle que, através de redesenho da sua estrutura e ganho de capacidade, evitou um gasto de US$180 milhões com uma expansão precipitada. Quando o lean se torna parte da estratégia organizacional, a mudança é profunda e as melhorias são contínuas.
Os principais benefícios vistos após a aplicação do lean em hospitais são:
- Redução de custos;
- Eliminar o retrabalho;
- Padronização dos procedimentos;
- Melhor administração do estoque;
- Promover o desenvolvimento pessoal;
- Agilizar a resolução de problemas;
- Incentivar a inovação e uso de sistemas integrados.
O lean em hospitais brasileiros
Nós também temos por aqui bons resultados após a aplicação do lean. Junto com o Hospital Sírio-Libanês, o Ministério da Saúde criou e implementou o projeto “Lean nas emergências” visando a melhoria de um dos serviços mais criticados do SUS, as emergências, principalmente para reduzir a superlotação. O projeto piloto aconteceu entre agosto e dezembro de 2017 e os hospitais participantes já viram uma redução no tempo de atendimento de até 50%.
Uma mudança aplicada é na organização de fluxos de pacientes, separando ainda na sala de espera aqueles que possuem maior gravidade daqueles que possuem menos. Após o atendimento inicial, os de baixo risco são encaminhados para atenção básica, o qual pode atender 80% dos casos. Por outro lado, os de alto risco, já seguem para a internação ou realização de exames e procedimentos.
Com esse método, o hospital de urgências de Goiânia (Hugol) conseguiu reduzir o tempo médio de atendimento na emergência de 7,35 horas para 3,27 horas, uma redução de 55% em apenas seis meses. Também foi criada uma unidade de decisão clínica, onde o médico do PS precisa decidir em até quatro horas se libera ou interna o paciente. Existe ainda uma colaboradora na equipe que controla o tempo da espera. Se ela percebe que um paciente já está há três horas esperando, ela avisa o médico e agiliza algum exame quando necessário.
Com esse processo, o paciente sente que está sempre sendo atendido e não apenas sentado na sala de espera. Aqui percebemos bem um benefício do lean, um processo mais eficiente na qualificação dos casos de emergência reduz o tempo de espera, o que traz mais qualidade ao paciente.
Essa é apenas uma mudança praticada com o lean, existem muitas outras que podem ser aplicadas, como o uso de uma central única de agendamento cirúrgico ou ainda o uso de quadros visíveis a todos (médicos a pacientes) na busca de problemas e soluções dos hospitais.
Conclusão
Os benefícios mais tangíveis da utilização do lean em hospitais estão justamente nos problemas mais comuns do sistema, como longas filas de espera, custos crescentes e diversos tipos de desperdícios recorrentes em todos os sistemas de saúde.
A essência do pensamento lean está na contínua eliminação desses desperdícios e atividades desnecessárias que se encontram em todos os processos de um hospital (administrativos, de suporte, assistenciais etc). Ao eliminar essas tarefas, os colaboradores terão mais tempo e recursos para se dedicarem a atividades que realmente importam, como a segurança do paciente e a qualidade no atendimento.
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